Primeiro era um deus da noite e da tempestade,
ídolo negro e sem olhos, diante do qual saltavam nus e lambuzados de sangue.
Mais tarde, nos tempos da república, eram imensos os deuses, com mulheres,
filhos, camas desconjuntadas e raios que explodiam inofensivos. Por fim só os
neuróticos supersticiosos carregavam no bolso pequenas estátuas de sal,
representando o deus da ironia. À época não havia maior deus.
Vieram então os bárbaros. Também eles tinham em
alta estima o pequeno deus da ironia. Esmagavam-no sob os calcanhares,
adicionando-o depois aos seus manjares.
zbigniew
herbert
a rosa do mundo 2001 poemas para
o futuro
tradução de rui knopfli
assírio & alvim
2001