21 de Junho de 1962
Trabalho o dia todo como um monge
e à noite vagueio, como um gato
à cata de amor… Vou sugerir
à Cúria que me santifique.
Com efeito, respondo à mistificação
com a mansidão. Olho com olhos
de imagem os que vão linchar-me.
Observo o meu massacre com a coragem
serena de um sábio. Pareço
sentir ódio, mas escrevo
versos cheios de amor atento.
Estudo a perfídia como um fenómeno
fatal, como se dela não fosse objecto.
Tenho pena dos jovens fascistas,
e aos velhos, que são para mim formas
do mais horrível mal, oponho
apenas a violência da razão.
Passivo como um pássaro que, voando,
tudo vê, e, no seu voo para o céu,
leva no coração a consciência
que não perdoa.
pier paolo pasolini
de «la realtà»
poemas
trad. maria jorge vilar de figueiredo
assírio & alvim
2005
1 comentário:
Excelente lugar, este! Que bela iniciativa, lembrar tantas palavras esquecidas- até desconhecidas- das propostas de leitura dos dias de hoje. Muitos, muitos parabéns! Passarei a vir aqui como se fosse um passeio de domingo.
Armandina Maia
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