21 março 2017

luis muñoz / a moral ordinária



Não foi somente provar, mas provar-se.
Foi um cheiro e um tacto,
uma penugem,
pegar com as palavras as carícias,
consentir-se na forma de um corpo semelhante,
nadar nesse espelho de prata temperada,
saber que estava nele, no seu destino.

Se se deitou na sua cama ao meio-dia,
Depois de mergulhar no prazer de outro,
se transportou um calor a outro calor
e se passou na rua pela moral ordinária,
a tenaz de gelo de volta do trabalho,
soube que não voltava a retroceder no seu caminho,
soube que para sempre
atravessava um cerco.


luis muñoz
poesia espanhola, anos 90
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2000






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