Partículas. Partes sensíveis, pequenas
vísceras onde ocultam vermes;
uma poeira doce;
depois uma ferida.
Na lenta fusão das letras sob o estômago.
Feriste-me. E as sílabas de um mar
há tanto, tanto tempo desejado,
vais ouvi-las mais tarde
quando discutes Marx, ofendes os amigos
ou passeias de mão dada com os poderes do tédio.
Mais ou menos absorto. Virado de costas
ou simplesmente lendo
sem fome as páginas do tempo.
Nunca pesei muito.
Aliás, repara, quando os textos explodem
e se notam no ar as mil paciências
sobre a paciência;
quando a solidão se escama
como um peixe dúbio,
tudo se torna leve, final, tenso, coeso,
e tu podes ouvir, uivando,
um cão banhado em lágrimas.
Já de patas desfeitas. Mais frio. Ao frio.
Roubando, entre os antigos, ossos
roendo, entre os modernos, mitos.
Este penso infectado que me pões nos olhos.
Um país termina. Logo nasce um outro.
E o território és tu.,
população, governo.
Amor administrativo; viva pátria
dos cínicos.
da mentira.
Alarga as fronteiras
com teu riso sinistro.
sobre o sol do amor,
ardo na terra. Vou e venho.
E, além do mais, sou isto.
o peso das fronteiras 1976
o que foi passado a limpo, obra poética
assírio & alvim
2007
1 comentário:
O Armando é um poeta dos nossos maiores. Um amigo que perdi. Quando da sua morte não lhe foi prestada a homenagem que merecia. Quando ouvir falar dele direi sempre isto, porque foi injusto.
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