O corpo do rapaz irradiava um esplendor juvenil. Os
músculos eram macios, a pele coberta por uma penugem ainda leve.
Atravessáramos o Inverno absorvidos pela ânsia de
conhecimento. Não seria especialmente a ternura ou o afecto que nos unia, antes
a aventura dos corpos no extremo da adolescência. Ele tinha uma forma peculiar
e sensível de brincar com os meus cabelos muitos lisos, fazendo passar por eles
os dedos como agulhas. Este corpo de rapaz vivera no poema.
Um mamilo pequeno e claro trouxera à minha pele
lenta memória de infância: a menina que um dia me tomara por recém-nascido
alimentando-me do sue brevíssimo seio.
Chegara Setembro com a poalha ténue do entardecer. Nossos
corpos entravam no estado adulto onde cada um procurava o poema, isolado numa
solidão própria.
isabel de sá
semente em solo adverso (poesia
reunida)
em nome do corpo 1985
officium lectionis edições
2022
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