28 agosto 2023

mário de sá-carneiro / o recreio

 



 
Na minha Alma há um balouço
Que está sempre a balouçar ---
Balouço à beira dum poço,
Bem difícil de montar...
 
--- E um menino de bibe
Sobre ele sempre a brincar...
 
Se a corda se parte um dia
(E já vai estando esgarçada),
Era uma vez a folia:
Morre a criança afogada...
 
--- Cá por mim não mudo a corda,
Seria grande estopada...
 
Se o indez morre, deixá-lo...
Mais vale morrer de bibe
Que de casaca... Deixá-lo
Balouçar-se enquanto vive...
 
--- Mudar a corda era fácil...
Tal ideia nunca tive...
 
 
 
mário de sá-carneiro
(Lisboa, 1890-1916)
maria alzira seixo
os poemas da minha vida
público
2005
 



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