11 agosto 2022

charles simic / III

 
 
Sou o último soldado napoleónico. Quase duzentos anos passados, estou ainda em retirada de Moscovo. A estrada é ladeada por bétulas e a lama chega-me aos joelhos. A mulher com um só olho quer vender-me um frango e eu estou completamente nu.
Os alemães vão para um lado, eu para o outro. Os russos vão ainda para outro e dizem adeus. Comigo tenho um sabre de gala. Uso-o para cortar o cabelo, que está com um metro e vinte.
 
 
 
charles simic
o último soldado de napoleão
trad. francisco josé craveiro de carvalho
edições eufeme
2018




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