07 agosto 2022

fernando luís / desviou o rosto

 
 
Desviou o rosto. Sabia
como ninguém suster
a conduta dos instintos.
Estonteante, sob as águas,
fechou-se à tempestade.
 
O céu esfolava os corpos
e as palavras
reacendiam a trovoada de junho.
 
Caminhava, em todos os seus
movimentos era invisível
o estilhaço do prazer
e das afeições.
 
Um inábil vigor tornara-o
esquivo, encarcerado entre
extremos de suspeita, o nublado
mundo das suas mãos.
 
Não pedia senão silêncio,
flores fechadas.
 
 
 
fernando luís
hífen 4 abr/ set 89
cadernos semestrais de poesia
viagens
1989




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