abro no escuro esta lata de cerveja
ciente das represálias e da caça à multa –
já me enchi de endireitar a vida
a protestar de mansinho
a cravar boleia aos três pastorinhos
e a palitar o sono em cadeira sem assento
fazia uma outra disto ao fim ao cabo
espuma de outra cerveja –
(estacionam diante o prédio
decerto despertando o vizinho cuja voz jamais escutei)
já estive dentro
sei bem como ferve a demência refém de substâncias ilícitas
desmerecendo-nos a memória
de glórias alcatifadas em soalhos doutrem
as náuseas são por demais nesse engolir em seco
e com que fim haveria eu de
sangrar um cemitério num qualquer trecho de terreno baldio
em prol de uma errata
busco nos outros a escuna
convicto de que enquanto não se acha a pérola
come-se a ostra
sem recorrer à caridade de água-doce
e entre estas tantas decerto outras
escritas num caderno abandonado no balde do lixo
que a porteira há-de um dia recolher
narciso pinto
unhas de fome
poetria
2020
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