mariana mizarela |
À varanda trocavam sorrisos de dever cumprido.
Tiveram enfim tempo de arrumar a casa,
as estantes começaram a ter lógica
na vizinhança dos livros,
o chão da cozinha ficou mais brilhante
do que quando vinha a empregada
de autocarro e a casa era a paragem
durante várias horas de uma vida alheia
com as mãos indo e vindo da na cozinha,
as mesmas mãos que tinham abandonado o filho
horas antes e hão-de chegar horas depois
do sono. As roupas de varão falavam a meros
centímetros das de inverno, o vestuário ganhou
imunidade de grupo quase a 10 por cento
e as pessoas adoeceram aos poucos
com a casa limpa e arrumada para a morte.
rosa alice
branco
nervo/9
setembro/dezembro 2020
nervo colectivo de poesia
2020
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