Mosteiro de Santa Maria da vitória, 1920
A MEU irmão António
de CAVALARIA 4
Na Cova da Batalha ficou dita um dia para semprea
Vontade de Portugal.
As torres da Vontade de Portugal vêm desde o fundo da
Cova, direitas, até ficarem mais altas do que os montes em redor.
– Foi a Fé d’O POVO-MAIS-PEQUENO que encheu de
confiança uma Cova vazia na terra Portuguesa!
A HISTOIRE DU PORTUGAL PAR COEUR foi escrita para
ser espalhada por todas as partes, depois de julgada por todos os Portugueses.
Está em francês, porque foi assim que ensinei aos
estrangeiros a Raça onde nasci.
Sejam quais forem os Portugueses, todos podem
julgar a minha HISTOIRE DUPORTUGAL PAR COEUR. E se houver entre Portugueses
quem não tenha uma iniciação literária, tanto melhor, para poder julgar o que
eu quis escrever por Nós todos.
Mas, inesperadamente, (porque os Portugueses nunca
se denunciam na maneira de melhor servir a sua terra), dois Portugueses acabam
de provar que eles serão o melhor júri do valor nacional da minha HISTOIRE DU
PORTUGAL PAR COEUR.
Esses dois Portugueses chamam-se Gago Coutinho e
Sacadura Cabral.
A eles dois venho pedir para que me digam se a
minha HISTOIRE DU PORTUGAL PAR COEUR deve ser, na verdade, espalhada por todas
as partes ou rasgada para sempre, comigo próprio.
Aguardo de joelhos a sua resposta, com a HISTOIRE
DU PORTUGAL PAR COEUR sobre o meu peito, onde guardo quotidianamente a ambição
que não cedo a ninguém – de querer ser eu o melhor de todos os Portugueses!
Lisboa – Abril 1922
TEJO, lombada do meu poema aberto
em páginas
de
Sol
Le Portugal se trouve là-bas, dans un endroit
du Sud-Ouest de l’Europe le plus éloigné
de Paris.
Le Portugal est le dernier coeur
Européen
avant la Mer.
Nous avons notre Soleil National Portugais
qui fait grandir les pastèques et qui rend les
femmes belles comme des pommes et les hom-
mes durs comme des mâts.
Nous avons tous les fleuves dont
nous avions
besoin. Le Tage en est leplus
grand : il est
né en Espagne, comme d’autres,
mais i1 n’a
pas voulu y rester.
Nous avons aussi des petits chevaux d’ancien-
ne race méridionale, tâchetés comme des va-
ches et qui n’ont jamais eu de pareil. Ils se
promènent après le diner, tout fièrs d’être
Portugais.
Nous avons aussi des vendeuses
de poissons
qui vont dans les rues comme les
bateaux sur Mer.
– Elles ont le goût du sel. Dans
leur pan-
niers elles portent la Mer.
Elles se marient avec les
pêcheurs qui ont
des têtes d’Océan et pantalonas bleu-marin.
(Au bout d’une dizaine d’années
cela fait une
dizaine de petits matelots tout neufs!)
Le dimanche on va déjeuner sur l’herbe pour
voir notre Soleil National Portugais faire gran-
dir les pastèques au tour de petites maisons
blanchies où l’on fait encore des Portugais.
Les femmes du Portugal sont les seules qui
sachent faire des Portugais!
Le Dimanche on cherche une Marie
pour se
marier. Tous les mariages commencent
par
un Dimanche!
Moi aussi, j’aime une Maria! Je voudrais bien
que ce soit la Mienne: jetrouve qu’Elle est la
plus jolie et Elle crois que je suis le plus intel-
ligent!
Nous nous marierons, tout le monde le dit!
TEJO, lombada do meu poema aberto
em páginas
de
Sol
Notre premier Roi fut un géant. On dit que,
de ce fait, il fut Roi
Dans une guerre contre les
sarrasins, notre
1er Roi perdit tous ses soldats.
Il resta seule
en combat contre les sarrasins.
Notre-Seigneur Jésus-Christ vint
à son aide
et tous deux ont gagné la guerre
contre tous
les sarrasins.
Ceci est raconté en héraldique
par le drapeau
Portugais.
Au moyen-âge, où l’on a beaucoup pensé, le Roi Jean
Premier, dit celui de Bonne Renommée, s’est marié (avec le consentement du
peuple Portugais) à une très jolie dame Anglaise laquelle accoucha 4 des plus
grands Portugais:
Un SAINT, un ROl, un HÉROS et un SAGE.
Celui-ci fut grand mathématicien. Il fit dela
mathématique dans un temps où il failait encore inventer de la mathématique.
Il choisit un endroit dans le midi du Portugal,
tout contre la Mer – pour déchiffrer la Mer! C’est là l’endroit du Portugal le
plus éloigné de Paris!
Et tout ceci se passait dans un temps où laMer
avait de terribles serpents dans la tête des marins.
Ce sage prince dessinait jour et nuit le mappemond.
Quand ce fut fait, il fit bâtir des vaisseaux et des vaisseaux, pour qu’ils allassent
répéter sur Mer les lignes au crayon qu’il avait tracées sur son mappemond.
Les vaisseaux sont partis, et quand les vaisseaux revinrent,
les lignes au crayon que le Sage avait tracées sur son mappemond, étaient
exactement vraies! elles avaient été parfaitement bien imaginées!
Depuis ce jour, l’Europe commença à devenir bien
plus grande que sur la carte.
Un autre Portugais fait, le premier, le tour
du monde, tout comme l’oeil fait de rond le
l’orange.
Sur terre aussi, nous avons été três
grands.
Guillaume Apollinaire connut un
Portugais,
D. Pedro d’Alfarrobeira qui est
revenu de son
7ème voyage.
«Avec ses quatre dromadaires courut
le
monde et l’admira. Il fit ce que
je voulais
faire si j’avait quatre
dromadaires»,
dit Guillaume Apollinaire sur ce
Portugais-là.
Un jour, Dom Sebastião, notre Roi le plus
jeune, notre plus beau Roi, rassembla toute
la jeunesse Portugaise pour accomplir la
grande Victoire.
Mais Dieu garda cette Victoire, en atten-
dant... en attendant demain... en attendant
toujours demain…
…Nous attendant, nous autres, les Por-
tugais d’aujourd’hui!
Paris, 7 Avril 1919.
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TEJO, lombada do meu poema aberto
em páginas
de
Sol
Portugal situa-se lá em baixo, no lugar
do Sudoeste da Europa mais afastado de
Paris.
Portugal é o último coração Europeu
antes do Mar.
Nós temos o nosso Sol Nacional Português
que faz crescer as melancias e torna as
mulheres belas como maçãs e os ho-
mens duros como mastros.
Temos todos os rios de que
precisávamos. O Tejo é o maior: nasceu
em Espanha, como outros, mas
não quis lá ficar.
Temos também pequenos cavalos da antiga
raça meridional, manchados como vacas
e que nunca tiveram igual. Passeiam-se
depois do jantar, orgulhosos de serem
portugueses.
Também temos vendedoras de peixe
que vão pelas ruas como os barcos no Mar.
– Elas sabem a sal. Nos seus cestos
transportam o Mar. Casam-se com pescadores que têm
cabeças de Oceano e calças azul-marinho.
(Ao fim de uma dezena de anos o resultado
é uma dezena de pequenos marinheiros novinhos em
folha!)
Ao domingo vai-se almoçar ao campo
para ver o nosso Sol Nacional Português fazer crescer
as melancias à volta de casinhas
pintadas de branco onde ainda se fazem portugueses.
As mulheres de Portugal são as únicas que
sabem fazer Portugueses!
Ao Domingo procura-se uma Maria para
casar. Todos os casamentos começam
por um Domingo!
Eu também gosto de uma Maria! Gostaria muito
que fosse a Minha: acho que Ela é
a mais bonita de todas e Ela acha que eu sou
o mais inteligente!
Havemos de nos casar, toda a gente o diz!
TEJO, lombada do meu poema aberto
em páginas
de
Sol
O nosso primeiro Rei foi um gigante. Dizem que,
por isso mesmo, foi Rei.
Numa guerra contra os sarracenos, o nosso
1º Rei perdeu todos os seus soldados. E ficou
sozinho
a combater contra os sarracenos.
Nosso Senhor Jesus Cristo veio em seu auxílio
e os dois ganharam a guerra contra os sarracenos.
Esta história é contada em heráldica pela bandeira
Portuguesa.
Na idade-média, onde se pensou muito, o Rei João
Primeiro, chamado o da Boa Memória, casou-se (com o consentimento do povo
Português) com uma bonita dama Inglesa a qual deu à luz 4 dos maiores Portugueses:
Um SANTO, um REI, um HERÓI e um SÁBIO.
Este último foi um grande matemático. Ele fez
matemática num tempo em que faltava ainda inventar a matemática. Escolheu um
lugar no sul de Portugal, juntinho ao Mar – para desvendar o Mar! É esse o
lugar de Portugal mais distante de Paris! E tudo isto se passava num tempo em
que o Mar tinha terríveis serpentes na cabeça dos marinheiros. Este príncipe
sábio desenhava dia e noite o mapa-mundo. Quando acabou, fez construir barcos e
barcos, para irem repetir no Mar as linhas a lápis que ele tinha traçado no
mapa-mundo. Os barcos partiram, e quando os barcos voltaram, as linhas a lápis
que o Sábio tinha traçado no mapa-mundo eram exactamente verdadeiras! tinham
sido perfeitamente bem imaginadas! Desde esse dia, a Europa começou a tornar-se
bem maior do que no mapa.
Um outro Português foi o primeiro a fazer a volta
ao mundo, assim como o olho faz a volta à laranja.
Em terra também fomos grandes.
Guillaume Apollinaire conheceu
um Português,
Dom Pedro d’ Alfarrobeira que
voltou da sua 7ª viagem:
«Com seus quatro dromedários correu
o mundo e o admirou. Fez o que
eu fazer gostava
se tivesse quatro dromedários»,
diz Guillaume Apollinaire sobre esse Português.
Um dia, Dom Sebastião, o nosso Rei mais novo,
o nosso mais belo Rei, reuniu toda a juventude
Portuguesa para levar a cabo a grande Vitória.
Mas Deus guardou essa Vitória, à espera…
à espera de amanhã… sempre à
espera de amanhã…
… Esperando-nos, a nós, aos Portugueses de Hoje.
Paris, 7 de Abril de 1919
josé de almada negreiros
poesia
estampa
1971
(a tradução é a de Graça Vieira Lopes)
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