03 junho 2020

carlos poças falcão / eu vi por dentro a fábrica do inferno



Eu vi por dentro a fábrica do inferno. Agora vejo
o muito que já tive. E o pouco me é tirado.
A voz que me guiava, agora cala-se. Os meus íntimos
estranham-me e afastam-se. E eu mesmo os desconheço.
Meus dias aparecem e assim desaparecem.
A morte dança em festa e a mentira em todo o lado
erige monumentos. Digo o nome do meu Deus
e abismos de palavras o engolfam num tumulto.
Até o coração já me não é um coração
mas um relógio-bomba a detonar no seu reduto.
E a minha voz é fraca e o ouvido duvidoso;
se peço, ninguém ouve; se me chamam, não escuto.



carlos poças falcão
sombra silêncio
opera omnia
2018







1 comentário:

" R y k @ r d o " disse...

Maravilhoso de ler

Nota: A letra está muito pequenina. Custa a ler. Não pode ser um pouco aumentada? Obrigado )
.
Tenha um dia feliz