28 junho 2020

a. m. pires cabral / amar




Amar foi durante muito tempo
gravar iniciais adolescentes,
no fuste das tílias.

Era então uma espécie
de idade de ouro do amor.

Mas tive de aprender à minha custa
que amar pode ser tão envolvente
como um polvo:
ama-se em muitas frentes.

Aprendi que amar, entre outras coisas,
é também navegar as águas da noite
adultamente
sem bússola e sem cautelas,
à proa fugidia dum batel.

E que, em casos mais desesperados,
é ir aos trambolhões de mar em mar.
Tumultuosamente. Sem ser correspondido.
E em chamas, se preciso for.


a.  m. pires cabral
a noite em que a noite ardeu
cotovia
2015





3 comentários:

brancas nuvens negras disse...

Palavras sábias.

" R y k @ r d o " disse...


Poema muito bonito. Gostei muito de ler. O amor é lindo.
.
Tenha um domingo de Paz e fraternidade

© Fanny Costa disse...

Amar...simplesmente amar...
Gostei muito do poema.

Beijinho e boa semana