31 janeiro 2020

yorgos seferis / garrafa ao mar



XII

Três rochedos alguns pinheiros queimados e uma ermida
e mais acima
a mesma paisagem copiada recomeça;
três rochedos em forma de pórtico, enferrujados
alguns pinheiros queimados, negros e amarelos
uma pequena casa quadrada enterrada na cal;
e mais acima muitas vezes ainda
a mesma paisagem recomeça em escadaria
até ao horizonte até ao pôr do céu.

Aqui atracámos o barco para remendar os remos partidos,
beber água e dormir.
O mar que nos amargurou é fundo e inexplorado
e desdobra uma serenidade infinda.
Aqui entre os seixos encontrámos uma moeda
e jogámo-la aos dados.
Ganhou-a o mais novo e perdeu-se.

Voltámos a embarcar com os nossos remos partidos.


yorgos seferis
romance
poemas escolhidos
trad. de joaquim manuel magalhães e nikos pratisinis
relógio d´água
1993





1 comentário:

Margarida Pires disse...

Existe um belo pinheiral dentro de cada um de nós. Pronto a ser explorado.
Por isso por vezes navego por mares nunca navegados.
Um grande beijinho de luz,
Negy Maia