Sonho muito.
Tiro pedaços de sangue à noite, pretérito do dia
(Eu é que fico pretérito – preterido: - a noite irá).
Esclareço assim pequenas confusões adiantadas no senso,
Na cinza científica (azoto, silício, etc.),
No preconceito serial caligrafado a néon.
Escrevo torto/morto
E de repente tenho boa letra, vivo e não rimo:
Fugiu do meu sangue o ritmo do tambor auricular,
E, à sístole que fecha, a diástole abre e levanta
A Catedral do Homo Sapiens que abençoa sem mitra
[os ignorantes,
O Poeta de sangue, dador de sangue,
Cheio de picadas e rosas como uma pulga e um lençol,
Uma roseira brava ou um avental de menina,
Seja Rosa de Lima ou vá pela mão do Snr. Rosa.
Sangro muito.
Forço a protecção do epitélio
Destruindo o equilíbrio aos glóbulos sem núcleo,
Meras esferas admiráveis, rubras,
Levemente gordurosas,
Pã, pã, reflectindo o silêncio interior nas almofadas
E tingindo as estradas da pintura sagrada do acidente
(Cruz ao morto!).
Sangro muito.
Avermelho o branco deslumbrante até ao infra
E deliro ainda mais sobre o violeta, que queima:
Por isso há quem me chame o Pelicano esvaído,
Mas eu, o pai dos Nomes, chamo-me só Poeta,
vitorino nemésio
sião
organização e notas de
al berto, paulo da costa domingos e rui baião
lisboa
1987
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