carta para Paul Demeny, Charleville, 15 de Maio de
1871
(excerto)
[…]
Digo que é preciso ser-se vidente,
tornar-se vidente.
O
poeta torna-se vidente através de um
longo, imenso e ponderado desregramento de
todos os sentidos. Todas as formas de
amor, de sofrimento, de loucura; ele procura-se a si mesmo, ele esgota em si
todos os venenos para ficar apenas com as quintessências. Inefável tortura para
a qual ele precisa de toda a fé, de toda a força sobre-humana, através da qual
ele se torna entre todos o grande demente, o grande criminoso, o grande maldito
– e o Sábio supremo! – Porque ele alcançou o desconhecido! Porque ele cultivou a sua alma, já de si rica, mais
do que ninguém! Ele alcança o desconhecido, e quando, aterrorizado, acabar por
perder a inteligência das suas visões, ele tê-las-á visto! Que ele rebente no
seu salto pelas coisas inauditas e infindáveis: outros horríveis trabalhadores
virão; e começarão pelos horizontes nos quais o outro vergou!
[…]
jean-arthur rimbaud
cartas e documentos
obra completa
trad. miguel serras pereira e joão moita
relógio d´água
2018
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