VI
não posso
tu sabes que não posso
repetir-me
o sangue que cai uma vez
não torna a cair
a estrela a febre
as unhas cravadas no peito
palavra já afirmada
dita por mim e por ti
não não
não
não quero
outra vez a mesma existência
tu sabes
que o abandonar o corpo
dentro de uma longa superfície
nos faz saber que
– cavalo ou mola de aço –
tudo é exaustivamente brilhante
os próprios extremos da noite
se colam aos nossos dedos
e palpavelmente nos aparecem
luminosos
erguidos eroticamente
o espaço povoado
por esferas de cristal
digo eu
não sei talvez
não posso
tornar à primeira vez
que te encontrei
agora vai
leva os teus braços
os teus olhos
o teu sexo
parte
deixa-me apenas
o vento
maio 1950
mário-henrique leiria
obras completas
poesia
e-primatur
2018
Sem comentários:
Enviar um comentário