18 maio 2019

roland barthes / «mostrai-me alguém para desejar»




3.
Para te mostrar onde está o teu desejo, basta proibir-te um pouco (se é verdade que não há desejo sem proibição). X… deseja-me ali, perto dele, mas deixando-o um pouco livre: submisso, ausentando-me por vezes, mas permanecendo pouco afastado: é preciso, por um lado, que esteja presente, criando a proibição (sem a qual não haveria bom desejo), mas que também me afaste no momento em que, formado já este desejo, me arriscasse a estorvá-lo: é necessário que esteja a Mãe suficientemente boa (protectora e liberal) à volta da qual brinca a criança enquanto ela cose calmamente. Tal seria a estrutura do par «bem sucedido»: um pouco de proibição, muito jogo; designar o desejo e depois deixá-lo, à maneira destes indígenas amáveis que nos indicam o caminho certo sem, no entanto, se incomodarem em acompanhar-nos.


roland barthes
fragmentos de um discurso amoroso
trad. isabel pascoal
edições 70
2017





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