3.
Para te mostrar onde está o teu desejo, basta proibir-te
um pouco (se é verdade que não há
desejo sem proibição). X… deseja-me ali, perto dele, mas deixando-o um pouco livre: submisso, ausentando-me
por vezes, mas permanecendo pouco afastado:
é preciso, por um lado, que esteja presente, criando a proibição (sem a qual
não haveria bom desejo), mas que também me afaste no momento em que, formado já
este desejo, me arriscasse a estorvá-lo: é necessário que esteja a Mãe
suficientemente boa (protectora e liberal) à volta da qual brinca a criança
enquanto ela cose calmamente. Tal seria a estrutura do par «bem sucedido»: um
pouco de proibição, muito jogo; designar o desejo e depois deixá-lo, à maneira
destes indígenas amáveis que nos indicam o caminho certo sem, no entanto, se
incomodarem em acompanhar-nos.
roland
barthes
fragmentos de
um discurso amoroso
trad. isabel pascoal
edições 70
2017
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