12 de Fevereiro 1942
A arte moderna é – na medida em que vale qualquer
coisa – um regresso à infância. O seu tema eterno é a descoberta das coisas,
descoberta que apenas pode acontecer, na sua forma mais pura, na recordação da
infância. Isto é o efeito da all-pervading
consciência do artista moderno (historicismo, noção da arte como actividade
auto-suficiente, individualismo), que o faz viver, a partir dos dezasseis anos,
num estado de tensão – quer dizer, num estado que não é próprio à absorção, que
não é ingénuo. Em arte, só se exprime bem aquilo que foi absorvido
ingenuamente. Só resta aos artistas fazerem meia-volta e inspirarem-se na época
em que ainda não eram artistas, ou seja, a infância.
cesare pavese
o ofício de viver - diário
(1935-1950)
trad. alfredo amorim
relógio d´água
2004
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