Quando o público soube que os estudantes de Lisboa,
nos intervalos de dizer obscenidades às senhoras que passam, estavam empenhados
em moralizar toda a gente, teve uma exclamação de impaciência. Sim —
exactamente a exclamação que acaba de escapar ao leitor...
Ser novo é não ser velho. Ser velho é ter opiniões.
Ser novo é não querer saber de opiniões para nada. Ser novo é deixar os outros
ir em paz para o Diabo com as opiniões que têm, boas ou más — boas ou más, que
a gente nunca sabe com quais é que vai para o Diabo.
Os moços da vida das escolas intrometem-se com os
escritores que não passam pela mesma razão porque se intrometem com as senhoras
que passam. Se não sabem a razão antes de lha dizer, também a não saberiam
depois. Se a pudessem saber, não se intrometeriam nem com as senhoras nem com
os escritores.
Bolas para a gente ter que aturar isto! Ó meninos:
estudem, divirtam-se e calem-se. Estudem ciências, se estudam ciências; estudem
artes, se estudam artes; estudem letras, se estudam letras. Divirtam-se com
mulheres, se gostam de mulheres; divirtam-se de outra maneira, se preferem
outra. Tudo está certo, porque não passa do corpo de quem se diverte.
Mas quanto ao resto, calem-se. Calem-se o mais
silenciosamente possível.
Porque há só duas maneiras de se ter razão. Uma é
calar-se, que é a que convém aos novos. A outra é contradizer-se, mas só alguém
de mais idade a pode cometer.
Tudo mais é uma grande maçada para quem está
presente por acaso. E a sociedade em que nascemos é o lugar onde mais por acaso
estamos presentes.
Europa , 1923
1922
fernando
pessoa
textos de
crítica e de intervenção
ática
1980
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