05 julho 2015

marin sorescu / simetria



Vagueava,
Quando, de súbito, à minha frente
Se abriram dois caminhos:
Um para a direita
E outro para a esquerda
Segundo todas as regras de simetria.

Parei,
Semi-cerrei os olhos,
Esbocei com os lábios uma dúvida,
Tossiquei,
E segui pelo da direita
(Precisamente pelo que não devia,
Como se provou mais tarde).

Só eu sei o que foi esse caminho,
É escusado dar pormenores.
E depois, à minha frente, abriram-se dois
Precipícios:
Um à direita,
Outro à esquerda.
Lancei-me no da esquerda,
Sem pestanejar, sem tomar balanço,
E catrapumba lá vou eu pelo da esquerda abaixo,
Que, ai de mim, não estava forrado de penas!
Rastejei, disposto a continuar.
Fui rastejando por algum tempo
E de súbito à minha frente
Abriram-se dois grandes caminhos
«Já vão ver» - disse para comigo -
e tomei outra vez o da esquerda,
para me vingar.
Errado, completamente errado, o da direita era
O verdadeiro, o grande caminho, ao que dizem.
E no primeiro cruzamento
Dei-me de corpo e alma
Ao da direita. Mas também agora
Era o outro que eu devia ter escolhido, o outro…

Agora a merenda estava quase no fim,
Na minha mão o cajado envelhecera,
Já não dava rebentos
Para eu descansar à sombra
Quando me domina o desespero.
Os ossos gastaram-se nas pedras,
Rangem e praguejam contra mim
Que perseverei no erro…
E olhem: agora à minha frente abrem-se
Dois céus:
Um à direita, outro à esquerda.



marin sorescu
simetria
tradução colectiva revista, completada e apresentada
por egito gonçalves
poetas em mateus
quetzal
1997




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