Uma mesa cheia de feijões.
O gesto de os juntar num montão único. E o gesto de
os separar, um por um, do dito montão.
O primeiro gesto é bem mais simples e pede menos
tempo que o segundo.
Se em vez da mesa fosse um território, em lugar de
feijões estariam pessoas. Juntar todas as pessoas num montão único é trabalho
menos complicado do que o de personalizar cada uma delas.
O primeiro gesto, o de reunir, aunar, tornar uno,
todas as pessoas de um mesmo território, é o processo de CIVILIZAÇÃO.
O segundo gesto, o de personalizar cada ser que
pertence a uma civilização é o processo da CULTURA.
É mais difícil a passagem de civilização para
cultura do que a formação da civilização.
A civilização é um fenómeno colectivo.
A cultura é um fenómeno individual.
Não há cultura sem civilização, nem civilização que
perdure sem cultura.
(Aqui há uma ilustração cujo desenho representa uma balança
perfeitamente equilibrada com a civilização num dos pratos e a cultura no
outro).
FIM
Justaposição disto mesmo a Portugal: uma civilização sem cultura.
As excepções, inclusive as geniais, não fazem senão confirma-lo.
josé de almada negreiros
edoi lelia doura
antologia das vozes comunicantes
da poesia moderna portuguesa
organizada por herberto helder
assírio & alvim
1985
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