03 outubro 2014

vladimir maiakóvski / minha universidade




Vocês sabem francês.
Dividem,
multiplicam,
declinam perfeitamente.
Pois declinem!
Me digam: vocês
com os edifícios
sabem cantar?
A língua dos trens vocês compreendem?
Os discípulos
estendem as mãos
somente nos livros
e cadernos da tabuada.
Eu
aprendi o alfabeto nas placas
folheando páginas de ferro e alumínio.
Os mestres
apertam em suas mãos
a terra
arrancando-lhe cascas,
gomos,
mas toda ela não passa
de um globo
em escala.
Eu
de bruços aprendi geografia ─
não por acaso: dormia no chão
deitado nas tábuas
de meu mais regular declínio.
A Ilovaiski tortura uma questão:
─  Seria mesmo ruiva a barba do Barba-Ruiva?
Não me importa essa burrice de holofotes.
Qualquer história das ruas
para mim é mais digna de nota.
Pagam Boaventuras (para odiar
desventurados)
e fazem patíbulo de sobrenomes
do prestigioso pódio.
Eu
aos gordos
desde a infância aprendi a sentir ódio.
Eu era pobre
e me vendia pelo almoço.
Depois retinirão ideiazinhas
como tostões de cobre
para levar também as moças.
Eu somente com os edifícios me entretinha.
Só me respondiam os encanamentos.
À espera do que eu lhes lançasse na orelha
as calhas se esticavam dos telhados.
Depois, uns contra os outros
e todos contra as estrelas,
em línguas que eu lhes tenha alumiado,
estalavam cata-ventos.



vladimir maiakóvski
uma nuvem de calças e liubliú
tradução de andré nogueira
editora medita
2013





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