I
(Didáctica.)
Extrai do todos-os-dias
o hoje de todo-o-sempre
até ao fim do mundo
quando o sol gelar
a última eternidade.
Embala amanhã nos braços dos outros
a criança esquecida
que foi agora atropelada
por mil automóveis
em todas as ruas do mundo…
Procura nas lágrimas recentes
os olhos que hão-de chorá-las
daqui a dez mil anos…
E se queres a glória
de ser ignorado
pelo egoísmo do futuro
ouve, Poeta do Desdém Novo:
canta os mortos das barricadas
e a volúpia das dores do tempo.
(Mas pede às rosas
que continuem a repetir-se
até ao fim das pedras…
─ em memória do sangue apagado dos homens.)
josé gomes ferreira
pessoais 1939-1940
poesia III
portugália
1971
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