Passaram
pelo meu nome e eu era um número
- menos que
a folha seca de um herbário.
Colheram-no
com mãos de zelo e gelo;
escreveram-no,
sem mágoa, num postal.
Convite a
que morresse. .. mas por quê?
Convite a
que matasse. .. mas por quem?
Ó vago
amanuense, ó apressado
e súbito
verdugo, que te ocultas
numa rubrica
rápida, ilegível,
que dirás tu
do meu e de outros nomes,
que dirás tu
de mim e de outros mais,
no Dia do
Juízo já tão próximo
- que dirás
tu de nós, se nem tremeu,
na rápida
rubrica, a tua mão?
Bem sei que
a tua mão só executa;
mas para
além do ombro a ti pertences.
Bem puderas
chorar, ter hesitado. . .
- A mancha
de uma lágrima bastara
para dar um
sentido a esta morte
a que a tua
indiferença nos convoca!
david mourão ferreira
tempestade de verão
1954
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