Não tenho filhos e não o lamento.
Sem dúvida, nas horas de fadiga e de fraqueza, em que nos renegamos a nós
próprios, acusei-me por vezes de não ter procriado um filho que me continuasse.
Mas esse desgosto tão vão baseia-se em duas hipóteses igualmente duvidosas: a
de que um filho forçosamente nos prolonga e a de que este estranho amontoado de bem
e de mal, esta massa de particularidades ínfimas e bizarras que constitui uma
pessoa mereça ser prolongado. Utilizei o melhor que pude as minhas virtudes;
tirei partido dos meus vícios; mas não tenho especial empenho em legar-me a
alguém.
marguerite yourcenar
memórias de adriano
trad. maria lamas
ulisseia
1974
1 comentário:
marguerite tinha razão...
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