Lancei ao abismo o osso da
misericórdia; não é neces-
sário quando a dor faz parte da
serenidade, mas a luci-
dez trabalha em mim como um
álcool enlouquecido.
Sei que as unhas crescem na
morte. Não
chega ninguém ao coração.
Despojamo-nos de nós mesmos
ao expulsar a falsidade,
esfolamo-nos e
não vem ninguém. Não
há sombras nem agonia. Bem:
não haja mais do que luz. Assim é
a última embriaguez: partes
iguais
de vertigem e esquecimento.
antonio gamoneda
trad. de hugo branco
4º encontro de poesia de aveiro
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