26 agosto 2012

antonio gamoneda / poema 2






Lancei ao abismo o osso da misericórdia; não é neces-
sário quando a dor faz parte da serenidade, mas a luci-
dez trabalha em mim como um álcool enlouquecido.


Sei que as unhas crescem na morte. Não


chega ninguém ao coração. Despojamo-nos de nós mesmos
ao expulsar a falsidade, esfolamo-nos e


não vem ninguém. Não
há sombras nem agonia. Bem:
não haja mais do que luz. Assim é
a última embriaguez: partes iguais
de vertigem e esquecimento.  




antonio gamoneda
trad. de hugo branco  
4º encontro de poesia de aveiro


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