Sabes bem que estes anos passarão,
que tudo acabará em literatura:
a imagem das noites, a lenda
da triunfante juventude e as cidades
vividas como corpos.
Que estes anos
passarão já o sabes, pois são teus
como posse de neve e neblina,
como do oceano é a bruma, ou é do ar
a cor fugitiva da tarde,
coisas de ninguém e do nada
surgidas, que ao nada vão:
nem o oceano, nem o ar, nem essa bruma,
nem um crepúsculo igual verão os teus olhos.
A memória é um desenho na água
e nas suas ondas revela-se o cadáver do tempo.
Farás esse desenho.
E de súbito
terás a sombra morta
do tempo junto de ti.
felipe benitez reyes
espanha
tradução de manuel rodrigues
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