17 dezembro 2011

armando silva carvalho / cavalos persas, papagaios, panteras





Cavalos persas, papagaios, panteras
e um elefante branco que borrifava as gentes
- tal era a embaixada de D. Manuel
a Leão o Décimo
em frente da qual o paquiderme
ajoelhou três vezes.
Assim se transportou Portugal a Roma.
Um circo a abarrotar por entre os deuses
(Miguel Ângelo) que transpiravam
a melancolia da solidão e da grandeza.
Num tempo em que se incrementava
a poesia didáctica de formosos temas
que iam do xadrez à criação dos bichos-da-seda
ou até à sífilis do célebre Frascator.
Aliás o Papa, de pestilenta fístula,
perito ele em xadrez,
poderia ter ouvido dizer a um da sua família,
Lourenço de Médicis: devemos desconfiar
da parte dianteira dos bois,
da parte de trás das mulas
e das duas partes dos frades.
Comia-se no ouro. Ou se roubava gado.
Como fez Giovanna Catanei - a Vanozza,
primeira amante de Alexandre VI.
Em Roma, como agora,
os poetas não passam de macacos
que se acolhem sob o sol papal.
Como esse Aretino que seria um nome
nos cristais e nos rios,
na testa dos bastardos e dos avarentos,
na vagina sábia das Impérias
e no peito dos cardeais que folgam.
«Com uma pena de papel faço troça de tudo
e até mesmo de mim parece Deus ter medo.»

  



armando silva carvalho
rosa do mundo
2001 poemas para o futuro
assírio & alvim
2001





1 comentário:

Evandro L. Mezadri disse...

É um deleite ler, muito competente no que se propôe a fazer.
Grande abraço e sucesso!