A Morte
— a Morte de que eu falo —
não é a que segue logo a tua queda,
mas precede a tua aparição no fio.
Antes de subir é que morres.
O que dança já está morto
— decidido a todas as belezas, capaz de todas elas.
Quando apareces, vai uma palidez
— não, não estou a falar de medo mas do contrário,
de uma invencível audácia —
vai uma palidez cobrir-te de cima a baixo.
Apesar da pintura e das lantejoulas
serás pálido e de alma lívida.
E nessa altura
é que a tua precisão será perfeita.
Sem mais nada que te prenda ao chão,
podes dançar sem cair.
Mas trata de morrer antes de apareceres,
e seja um morto,
já,
a dançar no fio.
(...)
jean genet
o funâmbulo
trad. de aníbal fernandes
hiena editora
1984
2 comentários:
a morte enquanto abolição de um dado sentir, enquanto privação de,
para depois, liberto (ou morto?), poder "dançar no fio"... Interessante! Muito interessante, até para um não-admirador de Genet!
Parabéns pelo seu blog que foi mencionado no blog que indica blogs no tema poesia http://ednamoda.blogspot.com/
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