13 março 2007

uma fila de árvores caminha pela minha rua...



34.


Uma fila de árvores caminha pela minha rua em direcção ao
Norte.


As árvores caminham lentamente, com o rosto
levantado, arrogantes ou tristes, com essa lentidão do
equilibrista sobre um campo de minas.


Pudessem ser amigos que fugiram da morte,
pois a morte tem apego ao Sul.


Pudessem ser uma fila de homens sem casa nem
família com a convicção do soldado que
avança para a derrota.


Mas são apenas árvores, altas, de folha perene, cujos passos
impassíveis nunca perdem o ritmo,
uma fila que o vento não dissolve nem extingue.


Eu não quero saber que dor as sujeita, nem que
mão imprudente as animou a crescer.


Apenas as observo passar, dia após dia, passar desde
a infância, desde o primeiro amor.


Quereria perguntar-lhes os nomes, mas calo-me.

Quereria que a noite chegasse e as cobrisse:

Que inclinassem apenas a cabeça ao morrer.







jesus urceloy
poesia espanhola anos 90
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2000



1 comentário:

Anónimo disse...

As árvores que caminham, como uma fatalidade...muito bonito