20 dezembro 2004

há coisas em que não vale a pena ser original...

Brinquedos



Nós, que somos espantosamente grandes,
que já não deslizámos pelo gelo desde as duas guerras,
Ou se o fizemos alguma vez, sem querer
Já nos fracturámos um ano,
Um dos nossos importantes e duros anos
De gesso...
Oh, nós, os espantosamente grandes
Sentimos por vezes
Que nos faltam os brinquedos.

Temos tudo o que necessitamos,
Mas faltam-nos os brinquedos.
Temos saudades do optimismo
Do coração de algodão das bonecas
E da nossa nau
Com três fieiras de velas,
Que tanto sulcava as águas
Como a terra firme.

Gostaríamos de montar um cavalo de madeira
E que o cavalo relinchasse ao mesmo tempo que a madeira
E que nós lhe disséssemos: 'Leva-nos a algum sítio
Não importa qual,
Porque em qualquer sítio da vida
Propomo-nos levar a cabo
Formidáveis façanhas'.

Oh, quanta falta, por vezes, nos fazem os brinquedos!
Mas nem sequer podemos estar tristes
Por essa razão,
E chorar com toda a alma,
Agarrando a perna da cadeira
Porque somos tão adultos
Que não há ninguém mais velho que nós
Para nos acariciar.




Marin Sorescu,
de "Simetria"
Tradução colectiva
Poetas em Mateus, Quetzal




4 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Sou do canal poesia e vejo que tens aqui um excelente blogue:

Tb tenho um blogue.. com a minha poesia..

é o albertovelasquez.blogspot.com

Abraço e parabéns.

Anónimo disse...

mt bom blog parabens
feliz natal para todos os que veem e "trabalham" no blog

passem em www.poetaasvezes.net

abraço

it disse...

'Leva-nos a algum sítio
Não importa qual,
Porque em qualquer sítio da vida
Propomo-nos levar a cabo
Formidáveis façanhas'.

¡Qué maravilla! -Toda una lección de vida. (¡y qué placer leer la musicalidad del idioma nai! ...cuánto tiempo lejos!)

Me ha gustado muchísimo.
Muchísimo.
Este poema.

Saf ;-))