01 março 2021

jorge velhote / janela indiscreta

  
 
O jardim que rodeia a casa antiga
é um sobressalto no silêncio
penumbroso da luz. A sombra
das tuas pernas, movendo-se,
desperta-me a boca. Um arbusto que pulsa como um peixe
percorre-me repousadamente.
 
No limite contemplado das janelas dignas
de oitocentos, a névoa desce com a noite,
estreita o vento na fralda da camisa, frustra
a inquieta adolescência de um rosto impúdico.
Abre janelas ao murmúrio do tempo,
ao vagaroso esvoaçar
do pensamento. Irremediavelmente, a barba cresce
 
fiel à distância.
 
 
 
jorge velhote
hífen 2 abr / set 88
cadernos semestrais de poesia
1988






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