Não existe
nenhuma noite para nos afogarmos:
lua cheia, um
rio correndo
negro sob um
suave reflexo de espelho,
névoas azuis
da água gotejando
de malha para
malha como redes de pesca
embora os
pescadores durmam,
torres
sólidas do castelo
multiplicando-se
num espelho
todo ele
silêncio. Mas estas formas flutuam
em minha
direcção, perturbando o rosto
da quietude.
Do nadir
erguem os
seus membros plenos
de opulência,
cabelos mais pesados
que o mármore
esculpido. Cantam
um mundo mais
cheio e límpido
do que aquele
que existe. Irmãs, a vossa canção
traz uma
carga demasiado pesada
para ser
escutada pelas espirais do ouvido,
aqui, num
país onde um sensato
senhor
governa equilibradamente.
Ao serem
perturbadas pela harmonia
que existe
além da ordem deste mundo,
as vossas
vozes fazem um cerco. Estais alojadas
nos recifes
em declive do pesadelo,
prometendo um
abrigo certo;
de dia,
estendem-se para além dos limites
da inércia,
das saliências
que existem
também nas altas janelas. Pior
ainda que
esta canção de enlouquecer
é o vosso
silêncio. Na origem
do apelo do
vosso coração gelado
─ a
embriaguez das grandes profundezas.
Ó rio, como
vejo serem arrastadas
lá no fundo
do teu curso de prata,
aquelas
grandes deusas da paz.
Pedra, pedra,
leva-me lá para baixo.
sylvia plath
pela água
tradução de
maria de lurdes guimarães
assírio &
alvim
1990