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27 agosto 2013

robert schindel / noite alta



Noite alta, eu, fechado em mim
E o planeta a esbarrar no meu nariz
Frio de rachar, lá fora sopra o vento oeste. Em mim
Há um oceano, formado
Por milhões de corpúsculos
Do Fecha-te-Sésamo e esses milhões
Inundam-me enquanto
Fico ali deitado no meu abrigo
Deitado de costas
De barriga, quando
O vendaval do sonho me dá a volta.


robert schindel
telhados de vidro nr. 11
tradução de joão barrento
averno
2008



10 abril 2012

robert schindel / requiem por uma amizade






Morreu o meu hóspede, vejo-o ainda a descer, a descer
Pelo caminho abaixo com a distância nos cabelos.
E de noite, quando as estrelas o permitem, serpenteia, serpenteia
O seu eco no coração, morreu o meu hóspede.

Um riso, um sapato, o violino de estar aqui
Bebíamos um copo ou dormíamos nas palavras mais novas
E havia segundos que fazíamos explodir
Saltar da lama do tempo, para assim o podermos entender.

Agora foi-se, o seu nome descansa, descansa o tempo
Levanto os pés do caminho e vou andando
Às arrecuas pelo atalho, o eco traz-me
O longe e o perto, eu e nunca, o hóspede-amigo do lado de lá.

Há por aqui outras paisagens?, perguntam por vezes as crianças.
Eu parto o caminho em pedaços e ofereço-lhes
Serpentinas, serpentinas, que elas recebem como maçãs e papoilas.
Porque tempos houve em que dormíamos nas palavras,
Tempos houve em que fazíamos explodir o tempo.








robert schindel
telhados de vidro nr. 11
tradução de joão barrento
averno
2008





25 março 2010

robert schindel / venero fausto, é certo







(a partir de Wladimir Wyssotzkij)




Venero Fausto, e admiro Dorian Gray
Mas a minha alma nunca o diabo a terá
Também a despropósito a ciganas dei
A ler o dia da morte nas borras do café.
E tu, demónio, vê lá, não me assinales
A data no teu negro diário!
Se já o fizeste, ah, peço-te que a esqueças
Antes que expire o prazo nesse calendário,
Não quero ficar à espera, a ver lá fora
Corvos palrar com anjos num último festim
Não quero que riam e cochichem agora
Apaga já a data do meu fim,
Minh´ alma afunda-se sob a neve no campo
Em medo e dúvida, imersa no tempo,
… Quero lá saber da imortalidade! Nada
Peço, só quero uma estrada larga e macia
Um amigo e um cavalo para a última jornada.
Humilde, baixarei a cabeça, para que nesse dia
Me deixem ir. Sem lágrimas, sem melancolia.








robert schindel
telhados de vidro nr. 11
tradução de joão barrento
averno
2008