04 agosto 2020

tomas tranströmer / o barco – a aldeia



Uma traineira portuguesa, azul, enrola um bocado do Atlântico.
Bem ao longe, um ponto azul, mas eu estou lá – onde seis homens
     a bordo não veem que nós somos sete.

Assisti à construção de um barco destes, parecia um alaúde enor-
     me sem cordas
na ravina de pobreza: a aldeia onde lavam e lavam sem parar, com
     fúria, paciência, melancolia.

A praia apinhada de gente. Era um comício que fora dispersado, os
     altifalantes confiscados.
Soldados levaram o Mercedes do orador por entre a multidão, apu-
     pos rufavam contra as chapas do veículo.




tomas tranströmer 
50 poemas
tradução de alexandre pastor
relógio d´água
2012





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