Depois de ter caminhado
sete dias através dos bosques, quem vai para Bauci não consegue vê-la e no
entanto já lá chegou. São as finíssimas andas que se elevam do solo a grande
distância umas das outras e se perdem acima das nuvens que sustêm a cidade. Sobe-se
com escadotes. No chão os habitantes raramente se mostram: têm já tudo de que
precisam lá em cima e preferem não descer. Nada da cidade toca o solo à excepção
daquelas pernas compridíssimas de fenicóptero em que assenta e, nos dias
luminosos, uma sombra perfurada e angulosa que se desenha na folhagem.
Três hipóteses se põem
sobre os habitantes de Bauci: que odeiam a Terra; que a respeitam a ponto de
evitar qualquer contacto; que a amam tal como ela era antes deles e com
binóculos e telescópios apontados para baixo não se cansam de passa-la em resenha,
folha a folha, pedra a pedra, formiga por formiga, contemplando fascinados a
sua própria ausência.
italo
calvino
as
cidades invisíveis
trad. josé colaço barreiros
teorema
1999
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