Pedem-me sempre poemas inéditos.
Ninguém lê poesia
mas pedem-me poemas inéditos.
Para a revista, o jornal, a performance,
o encontro, a homenagem, o sarau:
um poema, por favor, mas inédito.
Como se soubessem de cor o que escrevi.
Como se estivessem cheios da minha poesia
e precisassem agora de algo inédito.
A poesia é sempre inédita, disse o poeta num poema,
mas eles ignoram-no porque não lêem poesia,
só pedem poemas inéditos.
fabio morábito
a corja nr.º 1
março de 2020
língua morta
2020
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