Todas as coisas aspiram à imponderabilidade,
um lugar além do hábito da
linguagem,
certo silêncio, certa zona de graça.
Céu branco como seda crua,
janela que abre fustigada
pelo frio a oeste,
o pôr do sol como erva morta.
Se Deus magoasse como nós magoamos,
também ele estaria
destroçado,
Inconsolável, intranquilo.
Li Ho, segundo a história, sairia de casa
Todos os dias, de madrugada, a cavalo, com o jovem criado atrás dele,
Uma velha saca bordada
Como mochila.
Quando a inspiração o
atingia, Ho escrevia
As frases e deixava-as cair na saca.
À noite voltava a casa e trabalhava as frases num poema,
Por mais desconexas e díspares que fossem.
Uma vez a sua mãe disse,
«Não irá parar até ter vomitado o coração».
E foi o que fez.
Como John Keats,
Morreu crendo que o seu nome nunca seria escrito entre os Ilustres.
Sem esperança, pensou não ter – a pior praga – sorte.
Aos vinte e sete anos, à beira da morte, viu chegar um homem
De púrpura, cavalgando um dragão vermelho,
Com uma tábua na mão, que disse,
«Venho convocar Li Ho».
Saiu da cama e chorou.
Longe do quarto de doente, escuro de dragão, a neve assolava os
desfiladeiros
Macacos vogavam pelas árvores do pagode
e homens insensatos comiam jade branco.
Como estão lúgubres as colinas do sul,
como é branco o seu desespero
sob a página azul vazia do Dezembro Tang.
De que servem as palavras – não há palavras
Para a redacção gelada de Dezembro,
para o que nos fez sentir.
Vagueamos como nuvens entre o céu e a terra,
entre algo e nada,
Por vezes com sombras, por vezes sem.
charles wright
trad. josé alberto oliveira
rosa do mundo
2001 poemas para o futuro
assírio & alvim
2001
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