18 abril 2019

jorge luís borges / a uma moeda




Fria e tempestuosa a noite em que zarpei de Montevideu.
Ao dobrar o Cerro,
atirei do mais alto convés
uma moeda que brilhou e se afogou nas águas barrentas,
uma coisa de luz arrebatada pelo vento e pela treva.
Tive a sensação de ter cometido um acto irrevogável,
de acrescentar à história do planeta
duas séries incessantes, paralelas, talvez infinitas:
o meu destino, feito de soçobro, de amor e de vãs vicissitudes
e o daquele disco de metal
que as águas dariam ao suave abismo
ou aos remotos mares que ainda trituram
despojos dos saxões e dos viquingues.
A cada instante do meu sonho ou da minha vigília
corresponde outro da cega moeda.
Por vezes senti remorsos
e outras inveja
de ti, que estás, como nós, no tempo e no seu labirinto
e que não sabes isso.



jorge luís borges
obras completas 1952-1972 vol. II
o outro, o mesmo (1964)
trad. fernando pinto do amaral
editorial teorema
1998





1 comentário:

FILOSOFANDO NA VIDA disse...

Boa Tarde!
Estamos na semana Santa.
Não poderia deixar de passar aqui, mesmo que seja com um comentário colado, fique na certeza de que os meus votos são verdadeiros.
Cada Semana Santa é uma oportunidade de revivermos o amor de Deus por nós e para que continuamos no caminho da conversão.
Na Semana Santa, celebramos a paixão, morte e ressurreição daquele que veio ao mundo para modificá-lo, JESUS, e trazer a boa nova que os homens de boa vontade esperavam para transformar o mundo em lugar mais harmonizado.
O VERDADEIRO ESPIRITO PASCOAL é a RENOVAÇÃO. Renovação de nós como seres humanos em todos os sentidos.
Desejo que o verdadeiro sentido da Páscoa esteja presente na sua vida com muita paz, muitas alegrias, paz, esperança muito amor e muitas energias renovadas.
Feliz Páscoa!