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contaram-me que eram pesadas embarcações
tinham singrado tormentosos mares contornado arquipélagos
atravessado invernos e trópicos que não vêm ainda nos mapas
e chegavam agora ao sonho
carregados de madeiras preciosas pimenta peles almíscar
canela pérolas animais empalhados
frutos cujos nomes são difíceis de dizer
e largam prolongados sabores na polpa dos dedos
vinham as tripulações exaustas
pelos rigorosos ventos e agitadas águas longe de casa
onde o lume permanece aceso de refeição para refeição
alumiando a noite e o coração das mulheres insones
ciciando nomes de portos ladainhas para consolar a dor
cuidam dos filhos e das frieiras com as bondosas mãos
sujas de azeite… bordam intermináveis cantilenas
vergadas para as toalhas manchadas de vinho e gordura barata
quando recebiam recado dalgum naufrágio
o tempo punha-se a passar sobre elas
o luto fazia-as suspirar no vapor dos tachos de comida
o sal desbotava-lhes a cor ainda jovem do olhar
engelhava-lhes bocas e seios… punham-se a cismar
depois de terem arrumado na gaveta os retratos dos homens
lembravam-se pouco
iam em bandos até ao porto
sentavam-se encolhidas dentro dos rudes xailes
dormitavam à espera que acostassem mais navios
para o descarrego de panos finos jade tabaco marfim cereais
e o amor incerto dalgum homem acabado de chegar
da parte ainda obscura do mundo
al berto
salsugem
o medo
assírio & alvim
1997
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