Sei que só eu, por fim, me posso destruir;
mas pude já viver, deixar-me seduzir.
Meu coração nem qu´ria indagar no futuro
aquilo que pudesse, entre nós, ser um muro.
Agradava-me crer que nada era invencível:
sem nada examinar, eu esperava o impossível.
Ou esperava, talvez, perante vós morrer,
sem este adeus cruel haver de vos fazer.
De obstáculos até me incendiava outrora.
Que importavam razões? Mas a glória, Senhora,
inda eu a não ouvira, em meu foro interior,
no tom em que ela fala a um Imperador.
Conheço bem de mais tormentos que irei ter;
sinto bem que sem vós nem saberei viver.
Meu coração de mim começa a se afastar:
nem de viver se trata: apenas de reinar.
bérénice, acto
IV, cena V
jean racine
vozes da poesia europeia II
traduções de david
mourão-ferreira
colóquio letras nr. 164
fundação calouste gulbenkian
maio-agosto 2003
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