19 novembro 2012

sandro penna / cinco breves poesias





1
Talvez a juventude seja isto:
sem arrependimento amar sempre os sentidos.

2
Este corpo que aperto (e me aperta!)
tem um sabor de estrelas e de lodo.
E eu não sei quem agora me tinge
(profundíssimo jogo) de vermelho
as estrelas.

3
Era no cinema, onde as portas
se abrem e fecham continuamente.
Àquele rumor ela pensou
que ele voltasse;
mas não voltou.

4
Fazer do verde prado
um jogo proibido.
Já o tenho tentado.
Sem o conseguir.

5
«Poeta exclusivo do amor»
me chamaram. E era talvez certo.
Mas o vento aqui sobre a erva e os rumores
da cidade longínqua
não são eles também amor?
Sob nuvens quentes
não são ainda o som
de um amor que arde
e não mais se afasta?



sandro penna
vozes da poesia europeia III
traduções de david mourão ferreira
colóquio letras 165
fundação calouste gulbenkian
2003



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