Mostrar mensagens com a etiqueta sandro penna. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta sandro penna. Mostrar todas as mensagens

19 julho 2022

sandro penna / tinham-me deixado só

 
 
 
Tinham-me deixado só
no campo, sob
a chuva fina, só.
Olhavam-se espantados
mudos
os choupos nus: sofriam
com o meu castigo: castigo
de não saber claramente…
 
E a terra molhada
e os negros altíssimos montes
calavam-se vencidos. Era como
se um deus ruim
tivesse com um só gesto
petrificado tudo.
 
E a chuva lavava aquelas pedras.
 
 
sandro penna
trad. albano martins
hífen 5 março
cadernos semestrais de poesia
tradução
1990





 

02 junho 2014

sandro penna / devo estar a ficar velho



Devo estar a ficar velho, se fiz uma longa viagem
sempre sentado, se nada vi
senão a chuva, se um débil raio
de vida silenciosa… (os operários
entravam e saíam do comboio,
levando de uma aldeia para um lago tranquilo
o sono e as ferramentas de trabalho).
Quando cheguei à cama também gritei:
somos homens, mais cansados que cobardes.


sandro penna
no brando rumor da vida
tradução de maria jorge vilar de figueiredo.
assírio & alvim
2003




19 novembro 2012

sandro penna / cinco breves poesias





1
Talvez a juventude seja isto:
sem arrependimento amar sempre os sentidos.

2
Este corpo que aperto (e me aperta!)
tem um sabor de estrelas e de lodo.
E eu não sei quem agora me tinge
(profundíssimo jogo) de vermelho
as estrelas.

3
Era no cinema, onde as portas
se abrem e fecham continuamente.
Àquele rumor ela pensou
que ele voltasse;
mas não voltou.

4
Fazer do verde prado
um jogo proibido.
Já o tenho tentado.
Sem o conseguir.

5
«Poeta exclusivo do amor»
me chamaram. E era talvez certo.
Mas o vento aqui sobre a erva e os rumores
da cidade longínqua
não são eles também amor?
Sob nuvens quentes
não são ainda o som
de um amor que arde
e não mais se afasta?



sandro penna
vozes da poesia europeia III
traduções de david mourão ferreira
colóquio letras 165
fundação calouste gulbenkian
2003