04 novembro 2012

egito gonçalves / o vagabundo decepado (3)





Vagabundeio!
Passo sob o cartaz de um fantoche a cavalo,
passo entre desafios sem fraternidade,
entre mulheres áridas, entre bosques de chamas.
Passo nutrindo-me de palavras como água,
humildemente, sem discursos, desprezando
os pedestais que olho como uma estátua ferida.

A grande roda move-se de manhã à noite,
os números vão saindo, um zero, um sete...

Esta é a terra onde nasci e onde te escrevo.
Aqui jogo às escondidas com a angústia,
aqui fui alistado nos exércitos, naufraguei,
achei na  cinza os meus melhores diamantes,
encontrei a boca e os olhos do amor...
Aqui conservo as rosas que me deste.





egito gonçalves
o amor desagua em delta
editorial inova
1971



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