Longe nesta
língua de terra de crateras pedregosas,
Olhos revolvidos
por paus brancos,
Ouvidos que
absorvem as incoerências do mar,
Albergas a
tua cabeça sem vida ─ bola de Deus,
Lente de
misericórdias,
Os teus
parasitas
Fortalecem as
suas células descontroladas à sombra da minha
quilha,
Forçando-me
como fazem os corações,
Estigma vermelho
mesmo no centro,
Cavalgam na
maré agitada até ao ponto mais próximo da partida,
Arrastando os
seus cabelos de Jesus,
Será que
escapei, pergunto-me.
O meu
pensamento vai no vento ter contigo
Meu velho
cordão umbilical cheio de lapas, cabo do Atlântico,
Que parece
manter-se em miraculoso estado remendado.
Em qualquer
caso está sempre lá,
A trémula
respiração no fim da linha,
Curva de água
crescendo
Diante da
minha vara de água, deslumbrante e grata,
Tocando e
sorvendo.
Não te
chamei.
Não te chamei
mesmo.
Todavia,
todavia
Tu navegaste
até mim por sobre o mar
Gorda e
vermelha, placenta
Inibindo a
excitação dos amantes.
Brilho de
cobra de capelo
Retirando a
respiração às campainhas do sangue
Da fúchsia. Eu
não podia tomar alento,
Morta e sem
dinheiro,
Demasiadamente
exposta, como numa radiografia.
Quem pensas
que és?
A hóstia da
comunhão? A Maria chorona?
Não vou
aceitar nenhum bocado do teu corpo,
Garrafa onde
vivo,
Sinistro Vaticano.
Estou farta
de sal quente.
Vedes como
eunucos, os teus desejos
Silvam nos
meus pecados.
Fora, fora,
tentáculos de enguia!
Não há nada
entre nós.
sylvia plath
ariel
trad. maria
fernanda borges
relógio d´
água
1996
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