15 setembro 2010

sylvia plath / medalhão








Junto ao portão com a estrela e a lua
trabalhadas em pau de laranjeira descascado
jazia ao sol a serpente de bronze

inerte como um cordão de sapatos, morta
mas ainda flexível, a mandíbula
sem articulação e um esgar retorcido,

a língua como uma seta cor-de-rosa.
Suspendi-a sobre a minha mão.
O seu pequeno olho escarlate

inflamado era uma chama vidrada
quando o voltei para a luz,
ao partir um dia uma pedra,

assim ardiam os pedaços de granada.
O pó dava ao seu dorso uma tonalidade ocre
do mesmo modo que uma truta exposta ao sol.

Mas o seu ventre conservava o fogo
que avançava sob a cota de malha,
e as velhas jóias, ali, ardiam lentamente

em cada escama opaca do ventre:
o pôr-do-sol visto através de um vidro leitoso.
E vi larvas brancas serpear,

finas como alfinetes na ferida negra
onde as suas vísceras inchavam como se
estivesse a digerir um rato.

Quase tão casta como uma faca,
puro metal de morte. O tijolo arremessado
pelo trabalhador completou o seu esgar.






sylvia plath
pela água
tradução de maria de lurdes guimarães
assírio & alvim
1990





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