29 setembro 2009

henri michaux / mais um infeliz






Ele morava na rua de Saint Sulpice. Mas deixou a casa.
«Perto demais do Sena, disse ele, e um passo em falso dá-se num repente».
Foi-se embora.

Pouca gente pensa no facto de a água existir;
água profunda, e por toda a parte.
Os rios dos Alpes não são tão profundos,
mas são extremamente rápidos (o que vem dar ao mesmo).
A água é sempre a mais forte,
seja lá qual for a maneira como se apresente.
E como se encontra por todos lados, em quase todas as estradas...
bem pode haver pontes e mais pontes — basta faltar uma
e a pessoa afoga-se, tão certo como antes de haver pontes.

«Tome Hemostil, dizia o médico,
isso é do sangue.»
«Tome Antastene, dizia o médico,
isso é dos nervos.»
«Tome bals dizia o médico,
isso é da bexiga.»

Oh! a água,
toda essa água pelo mundo fora!








henri michaux
as minhas propriedades
trad. josé carlos gonzález
fenda
1998


1 comentário:

Grupo Cero VersoB disse...

oh, áh...
água...

águaviva...foi nossa revista por 8 números...
revista águaviva
de poesia

produzida nos nossos trabalhos grupais ao longo de 8 anos...
nos chamamos:
Grupo Cero de poesia

inventamos...
trabalhamos a poesia...
para então publicá-la

espero que gostem...

saudações poéticas...