13 janeiro 2009

amalia bautista / que fazes aqui?








Julgava que te tinha dito adeus,
um adeus contundente, ao deitar-me,
quando pude por fim fechar os olhos,
esquecer-me de ti, dessas argúcias,
dessa tua insistência, teu mau génio,
tua capacidade de anular-me.
Julgava que te tinha dito adeus
de todo e para sempre, mas acordo,
encontro-te de novo junto a mim,
dentro de mim, rodeias-me, a meu lado,
invades-me, afogas-me, diante
dos meus olhos, em frente à minha vida,
por sob a minha sombra, nas entranhas,
em cada golpe do meu sangue, entras
por meu nariz quando respiro, vês
pelas minhas pupilas, lanças fogo
nas palavras que minha boca diz.
E agora que faço?, como posso
desterrar-te de mim ou adaptar-me
a conviver contigo? Principie-se
por demonstrar maneiras impecáveis.
Bom dia, tristeza.










amalia bautista
cuéntamelo outra vez
trípticos espanhóis vol. III
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2004

1 comentário:

Chellot disse...

Julgaste sem refletir, pois o amor quando entra em nossas vidas difícil é apartar-te de nós. Linda poesia.

Beijos doces de sol e de lua.