13 novembro 2008

andre breton e paul éluard / tentativa de simulação da debilidade mental





Entre todos os homens, com vinte e quatro anos, reconheci que para nos elevarmos à categoria de homem considerado não era preciso ter mais do que eu a consciência do seu valor. Sustentei há muito tempo que a virtude não é estimada, mas que meu pai tinha razão quando queria que eu me elevasse muito alto acima dos seus confrades. Em absoluto não compreendo que se conceda a Legião de honra a personalidades estrangeiras de passagem em França. Acho que esta condecoração devia estar reservada para os oficiais que fazem actos de bravura e para os engenheiros de minas saindo da Politécnica. De facto é preciso que o grande mestre da Ordem de Cavalaria não tenha bom senso para reconhecer mérito onde ele não existe. De todas as distinções, oficial é a mais lisonjeira. Mas não se pode passar sem diploma. Meu pai deu aos seus cinco filhos rapazes e raparigas a melhor instrução e urna boa educação. Não é para aceitar um emprego sem retribuição muna administração que não paga. Aqui está a prova: quando se é capaz, como meu irmão mais velho, que várias vezes concorreu nos jornais para obter o fim desejado contra bacharéis em Letras e Ciências, pode dizer-se que se tem a quem fazer frente. Mas em cada dia seu trabalho, diz o provérbio. Trago na algibeira de dentro do meu casaco de Verão os planos de um submarino que quero oferecer à Defesa Nacional. A cabina do comandante está desenhada a vermelho e os canhões lança-torpedos são do último modelo hidráulico, com comando artesiano. Os ases da estrada não apresentam mais energia do que eu. Não me sinto constrangido por garantir que esta invenção deve triunfar. Todos os homens são partidários da Liberdade, da Igualdade, da Fraternidade e, eu acrescento, da Solidariedade mútua. Mas isto não é uma razão para não nos defendermos daqueles que nos atacam pelo mar. Escrevi ao Presidente da República uma carta secreta em papel ministro pedindo para o ver. A esquadra mediterrânica cruza neste momento ao largo de Constantina, mas o almirante concede poucas licenças. Um soldado por mais que faça tem de se pôr de joelhos por humildade diante do seu superior, ordens são ordens. A disciplina beneficia quando o chefe é justo mas firme. Não se dão gaIões a torto e a direito e o Marechal Foch merecia ser realmente o Marechal Foch. O livre-pensamento tem estado errado em não se pôr ao serviço da França.

Apoio também que se mude o nome aos fuzileiros navais, fiz uma diligência nesse sentido junto da Liga dos Direitos do Homem. Este nome é indigno do seu colarinho anil. Cabe-lhes a eles, aliás, fazerem-se respeitar. A Grécia da Lacedemónia era orgulhosa de urna maneira diferente. Enfim o homem crê em Deus e viram-se grandes cabeças pedirem a extrema-unção, é já um ponto importante.





andre breton e paul éluard
as possessões
a imaculada concepção
tradução franco de sousa
estúdios cor
1972




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